Hugo Lourenço, 26 anos, marrazense puro, formado como jogador nas camadas jovens do SCL Marrazes, viu o seu trajecto futebolístico ser interrompido para treinar única e exclusivamente uma equipa de Escolas “B” do nosso clube. Durante as últimas quatro épocas foi jogador da equipa sénior do SCL Marrazes, sendo que nas últimas duas abraçou seriamente o comando de equipas dos escalões mais baixos do clube, nomeadamente nos Escalões de Bambis e Escolinhas. Sempre frontal e objectivo no seu discurso, Lourenço aceitou ser entrevistado pelo nosso blogue.
SCLMarrazesJovem Lourenço, revela-nos o teu percurso enquanto jogador de futebol.
Hugo Lourenço Comecei em 1992, como infantil de segundo ano. O treinador era o Sr. Rochita, um dos grandes responsáveis por esta minha paixão pelo clube, tal como o Tróia (um grande contador de histórias) e o meu pai, pessoas importantes na transmissão do orgulho de ser Marrazense. Percorri todos os escalões do clube com boas equipas e alguns treinadores que me ensinaram a gostar do clube. Chegando ao último ano de júnior, as coisas complicaram-se. Foi um ano para esquecer, não só para mim como para o clube. No final dessa época acabei por ser dispensado. Estive inactivo durante quatro anos, onde pelo meio ainda tive uma época no 22 Junho/Amor. Após a descida do SCLM à 1ª Divisão Distrital, fui convidado pelo José Moleirinho a regressar. Para além de poder ajudar o meu clube a regressar à Divisão de Honra, tive o prazer de realizar um sonho que tinha desde miúdo, jogar no escalão máximo do clube. Como tudo tem um fim e, neste momento, jogar seria só no Marrazes acabou assim o percurso de jogador de futebol.
SCLMJ Na próxima época, não pertencerás ao plantel sénior do clube. Esclarece-nos, foste dispensado pela equipa técnica ou decidiste abandonar definitivamente o futebol?
HL Boa pergunta. Sinceramente não sei, não falaram comigo, (risos). Posso dizer que na parte final da temporada coloquei a hipótese de abandono, devido a algum cansaço. Passava seis dias por semana no clube a treinar duas equipas e ainda a treinar nos seniores, o que me provocou algum desgaste. Partilhei esta ideia com alguns elementos do plantel mas nunca dei a palavra final. Admirado fiquei quando soube que já toda a gente no clube sabia desta minha intenção, que, repito, não era definitiva. Mas, para mim esta situação não foi nova visto que já tinha passado por ela na subida a sénior e, se nessa altura essa atitude me deixou desanimado, hoje já com mais alguma maturidade, levo isso na desportiva. A minha permanência nos seniores sempre foi para ajudar, sendo não mais necessária a minha ajuda saio de consciência tranquila. Entrei num dos momentos mais complicados da equipa e saio com a sensação de dever comprido. Espero é que quem fique consiga atingir os objectivos e coloque o clube num lugar mais ao nível do SCLM.
SCLMJ Tal como foi questionado ao Sandro e ao Miguel, enquanto sénior passaste por épocas contrastantes ao nível das classificações finais do clube. Que causas apontas para esta inconstância de resultados?
HL Na primeira época com o José Moleirinho, em que nos safámos na última jornada contra o Vieirense, penso que acusámos muito a falta de experiência da maioria do plantel. Muitos elementos nunca tinham competido na Divisão de Honra. Com o Gonçalo Moleirinho, as coisas tomaram um rumo diferente. Houve muito trabalho de casa, treinava como se jogava. Penso que sempre estivemos fortes física e psicologicamente e, com um pouco mais de ambição e condições, esse teria sido o nosso ano. O ano passado foi uma desilusão total. A equipa apresentou-se amorfa, sem garra e muitas vezes de rastos em aspectos físicos. Lesões, arbitragens e castigos são pontos que temos de ter sempre em conta, até porque somos todos amadores e nem sempre há a preparação que seria desejada.
SCLMJ Apesar de ainda não teres o Primeiro Nível do Curso de Treinadores de Futebol, tens revelado qualidades na orientação dos atletas mais jovens do clube. Explica-nos como começou esta tua nova etapa no futebol.
HL Comecei por apoiar o Paulo Silva no ano em que fui dispensado. De seguida, tive uma breve experiência como seccionista do Veloso. E há três anos recebi um convite do responsável pelo futebol juvenil, Cardoso, num ano com muita desorganização, para treinar os escalões mais novos. Foi um mau começo como treinador, pois entregaram-me cerca de 40 jogadores, e a minha experiência era nula. No ano seguinte tudo melhorou. Inicialmente fui só para ajudar o Veloso que estava encarregue de todos os escolinhas, mas após a separação dos miúdos por idades acabei por ficar com o Braz na equipa de Bambis.
SCLMJ Costuma-se dizer que aprendemos com os bons e maus treinadores e tu foste orientado por vários ao longo do teu percurso. De que forma é que eles influenciaram a tua visão do futebol e do treino, sendo tu actualmente responsável pela orientação e treino de atletas ainda tão jovens?
HL Tenho a dizer que apanhei de tudo um pouco. Durante estes anos todos o que me marcou mais foi sem dúvida o Gonçalo Moleirinho e o próprio Veloso pela forma organizada que trabalham o treino. Num aspecto mais de gosto pelo clube, sem dúvida e, tal como tinha dito anteriormente, o Sr. Rochita e o Tróia, que me ensinaram algo que tento transmitir aos meus jogadores. Mas também tive influências negativas, tais como treinadores desorganizados, pouco ambiciosos e sem confiança na própria equipa. Tive, ainda, um treinador que não percebia nada de futebol, do qual apenas tirei um ensinamento: “não te metas naquilo que não sabes”.
SCLMJ Descreve-nos como é treinar jovens de cinco, seis, sete e oito anos. Que capacidades são necessárias a um treinador para trabalhar nestas faixas etárias?
HL A principal, paciência. È preciso ter muito gosto para treinar jogadores dentro destas faixas etárias. Há que ser disciplinador, para os treinos não serem uma brincadeira, e é preciso ser conhecedor da capacidade das crianças para não se exigir demasiado.
SCLMJ As pessoas, de um modo geral, têm tendência a desvalorizar e até ignorar o trabalho realizado nestas faixas etárias. Que análise fazes desta afirmação?
HL Embora saiba que isso é verdade, é algo que não me afecta. Realizo este trabalho por gosto e também para ajudar o clube, não me interessa se valorizam. Fico satisfeito quando alguém valoriza o trabalho que realizamos mas fico ainda mais feliz quando sinto que o valeu a pena, o tempo e o trabalho. Pretendo sim ser valorizado um dia mais tarde, pelos próprios miúdos, que me vejam na rua e me reconheçam como o treinador que lhe ensinou a crescer como jogador e como homem.
SCLMJ Actualmente, o SCL Marrazes reúne um leque de treinadores de qualidade, com a curiosidade da maioria ter sido formada como homens e jogadores no clube. Consideras que a nossa escola de talentosos jogadores se está também a expandir como escola de bons treinadores? Como explicas esta realidade?
HL Penso que neste momento o clube está a aproveitar, e bem, uma geração de jovens que sempre se interessaram pelo clube e que cedo se prontificaram a ajudar na educação e formação dos futuros talentos do clube. Sendo estes treinadores pessoas interessadas e aplicadas, têm mostrado uma elevada aptidão para aprender, logo melhorando diariamente a sua qualidade para exercer cargos na formação do clube.
Hugo Lourenço Comecei em 1992, como infantil de segundo ano. O treinador era o Sr. Rochita, um dos grandes responsáveis por esta minha paixão pelo clube, tal como o Tróia (um grande contador de histórias) e o meu pai, pessoas importantes na transmissão do orgulho de ser Marrazense. Percorri todos os escalões do clube com boas equipas e alguns treinadores que me ensinaram a gostar do clube. Chegando ao último ano de júnior, as coisas complicaram-se. Foi um ano para esquecer, não só para mim como para o clube. No final dessa época acabei por ser dispensado. Estive inactivo durante quatro anos, onde pelo meio ainda tive uma época no 22 Junho/Amor. Após a descida do SCLM à 1ª Divisão Distrital, fui convidado pelo José Moleirinho a regressar. Para além de poder ajudar o meu clube a regressar à Divisão de Honra, tive o prazer de realizar um sonho que tinha desde miúdo, jogar no escalão máximo do clube. Como tudo tem um fim e, neste momento, jogar seria só no Marrazes acabou assim o percurso de jogador de futebol.
SCLMJ Na próxima época, não pertencerás ao plantel sénior do clube. Esclarece-nos, foste dispensado pela equipa técnica ou decidiste abandonar definitivamente o futebol?
HL Boa pergunta. Sinceramente não sei, não falaram comigo, (risos). Posso dizer que na parte final da temporada coloquei a hipótese de abandono, devido a algum cansaço. Passava seis dias por semana no clube a treinar duas equipas e ainda a treinar nos seniores, o que me provocou algum desgaste. Partilhei esta ideia com alguns elementos do plantel mas nunca dei a palavra final. Admirado fiquei quando soube que já toda a gente no clube sabia desta minha intenção, que, repito, não era definitiva. Mas, para mim esta situação não foi nova visto que já tinha passado por ela na subida a sénior e, se nessa altura essa atitude me deixou desanimado, hoje já com mais alguma maturidade, levo isso na desportiva. A minha permanência nos seniores sempre foi para ajudar, sendo não mais necessária a minha ajuda saio de consciência tranquila. Entrei num dos momentos mais complicados da equipa e saio com a sensação de dever comprido. Espero é que quem fique consiga atingir os objectivos e coloque o clube num lugar mais ao nível do SCLM.
SCLMJ Tal como foi questionado ao Sandro e ao Miguel, enquanto sénior passaste por épocas contrastantes ao nível das classificações finais do clube. Que causas apontas para esta inconstância de resultados?
HL Na primeira época com o José Moleirinho, em que nos safámos na última jornada contra o Vieirense, penso que acusámos muito a falta de experiência da maioria do plantel. Muitos elementos nunca tinham competido na Divisão de Honra. Com o Gonçalo Moleirinho, as coisas tomaram um rumo diferente. Houve muito trabalho de casa, treinava como se jogava. Penso que sempre estivemos fortes física e psicologicamente e, com um pouco mais de ambição e condições, esse teria sido o nosso ano. O ano passado foi uma desilusão total. A equipa apresentou-se amorfa, sem garra e muitas vezes de rastos em aspectos físicos. Lesões, arbitragens e castigos são pontos que temos de ter sempre em conta, até porque somos todos amadores e nem sempre há a preparação que seria desejada.
SCLMJ Apesar de ainda não teres o Primeiro Nível do Curso de Treinadores de Futebol, tens revelado qualidades na orientação dos atletas mais jovens do clube. Explica-nos como começou esta tua nova etapa no futebol.
HL Comecei por apoiar o Paulo Silva no ano em que fui dispensado. De seguida, tive uma breve experiência como seccionista do Veloso. E há três anos recebi um convite do responsável pelo futebol juvenil, Cardoso, num ano com muita desorganização, para treinar os escalões mais novos. Foi um mau começo como treinador, pois entregaram-me cerca de 40 jogadores, e a minha experiência era nula. No ano seguinte tudo melhorou. Inicialmente fui só para ajudar o Veloso que estava encarregue de todos os escolinhas, mas após a separação dos miúdos por idades acabei por ficar com o Braz na equipa de Bambis.
SCLMJ Costuma-se dizer que aprendemos com os bons e maus treinadores e tu foste orientado por vários ao longo do teu percurso. De que forma é que eles influenciaram a tua visão do futebol e do treino, sendo tu actualmente responsável pela orientação e treino de atletas ainda tão jovens?
HL Tenho a dizer que apanhei de tudo um pouco. Durante estes anos todos o que me marcou mais foi sem dúvida o Gonçalo Moleirinho e o próprio Veloso pela forma organizada que trabalham o treino. Num aspecto mais de gosto pelo clube, sem dúvida e, tal como tinha dito anteriormente, o Sr. Rochita e o Tróia, que me ensinaram algo que tento transmitir aos meus jogadores. Mas também tive influências negativas, tais como treinadores desorganizados, pouco ambiciosos e sem confiança na própria equipa. Tive, ainda, um treinador que não percebia nada de futebol, do qual apenas tirei um ensinamento: “não te metas naquilo que não sabes”.
SCLMJ Descreve-nos como é treinar jovens de cinco, seis, sete e oito anos. Que capacidades são necessárias a um treinador para trabalhar nestas faixas etárias?
HL A principal, paciência. È preciso ter muito gosto para treinar jogadores dentro destas faixas etárias. Há que ser disciplinador, para os treinos não serem uma brincadeira, e é preciso ser conhecedor da capacidade das crianças para não se exigir demasiado.
SCLMJ As pessoas, de um modo geral, têm tendência a desvalorizar e até ignorar o trabalho realizado nestas faixas etárias. Que análise fazes desta afirmação?
HL Embora saiba que isso é verdade, é algo que não me afecta. Realizo este trabalho por gosto e também para ajudar o clube, não me interessa se valorizam. Fico satisfeito quando alguém valoriza o trabalho que realizamos mas fico ainda mais feliz quando sinto que o valeu a pena, o tempo e o trabalho. Pretendo sim ser valorizado um dia mais tarde, pelos próprios miúdos, que me vejam na rua e me reconheçam como o treinador que lhe ensinou a crescer como jogador e como homem.
SCLMJ Actualmente, o SCL Marrazes reúne um leque de treinadores de qualidade, com a curiosidade da maioria ter sido formada como homens e jogadores no clube. Consideras que a nossa escola de talentosos jogadores se está também a expandir como escola de bons treinadores? Como explicas esta realidade?
HL Penso que neste momento o clube está a aproveitar, e bem, uma geração de jovens que sempre se interessaram pelo clube e que cedo se prontificaram a ajudar na educação e formação dos futuros talentos do clube. Sendo estes treinadores pessoas interessadas e aplicadas, têm mostrado uma elevada aptidão para aprender, logo melhorando diariamente a sua qualidade para exercer cargos na formação do clube.
SCLMJ Com a remuneração a treinadores dos escalões de formação aumentam-se os níveis de qualidade de trabalho e, consequentemente, os resultados aparecem. Concordas com esta afirmação? Explica-nos o teu ponto de vista.
HL A única coisa que penso que melhorará é a exigência do clube perante os treinadores, podendo, assim, haver um maior acompanhamento do clube e imposição de certas regras para os treinadores. Poderá haver uma responsabilização do treinador sem haver o problema de ficar chateado com essa situação, será mais um empregado do clube. Mesmo assim, entendo que, para quem trabalha com gosto e amor à camisola, não é isso que melhorará o seu desempenho. Os resultados só melhorarão se houver um projecto, com ou sem dinheiro.
SCLMJ O SCL Marrazes como clube de referência no nosso distrito na formação de jovens jogadores, tarda em explodir definitivamente no panorama distrital e colocar equipas nos campeonatos nacionais. O que falta para tal acontecer?
HL O tal projecto de que falei, mas julgo que com a entrada do Gonçalo Moleirinho, isso irá surgir com o tempo. Até hoje o que sinto no SCLM é que a evolução dos atletas não é feita de forma contínua. Cada treinador tem a sua forma de pensar e estar no futebol, não tem havido debate de ideias. Depois demorou-se muito tempo a introduzir a equipa de iniciados B no clube. Penso que nesta equipa reside a chave para uma melhor transição dos atletas entre Fut. 7 e Fut. 11, podendo assim o clube trabalhar melhor a componente táctica dos jogadores. Com esta alteração e mais algumas afinações no futebol juvenil do clube essa alegria irá surgir com naturalidade.
SCLMJ Na próxima época, orientarás pela primeira vez uma equipa de Futebol 7 que, por sua vez, será constituída por atletas que basicamente darão os seus primeiros passos neste novo formato competitivo. Quais as tuas expectativas para este novo desafio?
HL É mais uma etapa para eles e para mim. Eu, em conjunto com o Braz, terei de me preparar para este desafio, para podermos dar o melhor de nós e dar nova aprendizagem a este grupo que temos vindo a acompanhar. Expectativas são unicamente que cresçam enquanto homens e enquanto jogadores. As vitórias virão com o tempo. O importante é que o trabalho diário se reflicta no final da época.
SCLMJ Se fosses director do SCL Marrazes, que atitude tomarias em relação a atletas do clube que são assediados e pretendem representar outros clubes que, por exemplo, irão disputar campeonatos nacionais?
HL Temos que ser realistas. O grande mal desta situação reside na nova lei, que ajuda equipas teoricamente mais fortes (o que, mais tarde, se reflecte uma pura ilusão). Contra isto nada podemos fazer, apenas criar um bom ambiente, condições para a evolução dos atletas e, mais que nunca, o cultivo pelo gosto do clube. Para além de termos de educar os filhos temos que educar os próprios pais, demonstrar-lhes que somos a melhor solução para os miúdos. Sou da opinião que certos atletas, que não saibam respeitar o Marrazes como instituição e desvalorizem todo o apoio que o clube lhe prestou durante a sua aprendizagem, devem sair e não mais voltar. As pessoas passam e o clube segue.
SCLMJ Para finalizar, que importância tem o SCL Marrazes na tua vida?
HL Sempre fez parte da minha vida, mesmo quando não tive nenhuma ligação física com o SCLM. É pouco provável que passe um dia sem falar do SCLM, faz parte de nós, o gosto por este grande clube. Aprendi com os mais velhos a gostar dele e agora é a minha vez de ser o velho e transmitir este sentimento aos mais novitos.
2 comentários:
Qual o motivo para se questionar os treinadores sobre outros Clubes e não sobre aquilo que ele sabe fazer e deseja para os garotos.
Em todas as entrevistas que li a pergunta é sempre a mesma.Lei de transferências.
Parece-me ridículo isso mas os "objectivos" dessa questão estão bem definidos e identificados.Parabéns ao entrevistador.
Sr. Anónimo o seu comentário é válido mas descabido no seu conteúdo. A lei das transferencias não afecta tanto o seu clube por sinal como a outros, mas a sua existencia é controversa e as opinioes sobre a mesma divergem daí o facto de ser abordada directa ou indirectamente nas entrevistas. Ninguém fala em clubes em especifico, porque são vários os que pretendem jogadores do Marrazes e vice-versa. Será sempre assim. Contudo, apreciamos que venha ao nosso blogue comentar os nossos posts...
Cumprimentos
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