sábado, 30 de agosto de 2008

"Estar à frente de um gigante como o SCL Marrazes é um desafio para gente audaz"

ENTREVISTA A CARLOS VALENTE, PRESIDENTE DA DIRECÇÃO DO SCL MARRAZES - PARTE I*

Carlos Valente, 41 anos, pertence aos quadros da Câmara Municipal de Leiria – área da Protecção Civil e Bombeiros –, é actualmente o gestor de segurança das infra-estruturas desportivas e de lazer da Leirisport, nomeadamente o Estádio Municipal de Leiria, Piscinas Municipais de Leiria, Caranguejeira e Maceira, Pavilhões Desportivos de Santa Eufémia, Caranguejeira, Arrabal, Maceira, Carreira, Bajouca, Pousos e Colmeias e do Parque de Campismo da Praia do Pedrógão. Em 2003 foi nomeado coordenador de segurança local para o EURO 2004 e em 2005 e 2008 representou o Comité de Organização Local na European Athletic Association para as áreas de acreditação e segurança. Natural de Timor, é desde Julho de 2007 o Presidente da Direcção do SCL Marrazes, democraticamente eleito pelos seus sócios. Foi atleta do nosso clube durante vários anos e, actualmente, é o líder de uma equipa de elementos que compõem uma Direcção que tem reabilitado o SCL Marrazes, devolvendo-lhe a credibilidade e a transparência que nem sempre foram apanágio do clube. Com pouco mais de um ano de mandato, já deixou a sua marca e os resultados do seu trabalho e da restante Direcção estão à vista. Carlos Valente aceitou ser entrevistado, em exclusivo, para o nosso blogue.

SCLMarrazesJovem Presidente, conte-nos o seu percurso enquanto jogador do SCL Marrazes.
Carlos Valente
Cheguei ao Marrazes pela mão do Prof. António Violante que, actualmente, pertence aos quadros técnicos da Federação Portuguesa de Futebol, depois do irmão, o Dr. José Violante, me ter sondado para ir para o União de Leiria. O António aconselhou-me a vir treinar aos Marrazes e foi ele quem me trouxe na sua moto a pedais para realizar o meu primeiro treino. Entregou-me àquele que viria a ser o meu primeiro treinador, o senhor Nini, e foi ele que me colocou pela primeira vez a jogar a lateral direito (eu tinha a mania que era avançado). Nessa época de 1980/81 fui Campeão Distrital de Iniciados e Campeão de série em Juvenis com direito a chamada à Selecção Distrital de Leiria. Nos anos seguintes, até aos Juniores, tive como treinador o senhor Fernando Santos passando aos seniores, sendo que com idade de júnior, ainda fiz a parte final do Campeonato Nacional da 3ª Divisão, época em que descemos. Estive mais duas épocas com o Sr. Manaça, onde vencemos uma final da Taça do Distrito de Leiria em 84/85 e garantimos o regresso à 3ª Divisão Nacional com a subida de 85/86. Destes dois últimos anos, recordo o respeito com que nós os mais novos chegávamos ao balneário e olhávamos aqueles que para nós eram uma referência. Entre outros, naquela altura pontificavam nomes como: Nuno Ferraria, Moleirinho, Paiva, Cardador e Paixão. Depois saí, aliás mandaram-me embora, porque a direcção na altura apostava forte e reforçou-se, com uma série de jogadores sonantes oriundos da Naval 1º de Maio, lembro-me do Santo António, Chuva e o treinador era o Mister Carlos Pio, nomes sonantes que ganhavam muito dinheiro na altura. Nós os mais novos, tivemos que mudar e aqui terminou o ciclo enquanto jogador, embora, anos mais tarde tivesse sido sondado para regressar, mas infelizmente não se veio a concretizar.

SCLMJ Explique-nos como surgiu a hipótese de presidir o nosso clube.
CV
Depois da saída, o SCL Marrazes ficou sempre no meu coração, como a qualquer um que por cá passa. Desde essa data, fui acompanhando os resultados desportivos, e observando o clube com alguma distância. Volvidos mais de 20 anos voltei. Voltei, pela mão do meu filho que ao ver algumas fotos de arquivo sempre foi dizendo que gostava de vir jogar para os Marrazes. Um dia, força do patrocínio da modalidade de hóquei em patins, fui convidado a assistir a um jogo, o miúdo gostou e quis experimentar iniciando a sua actividade com esta modalidade, para posteriormente, iniciar a prática de futebol. A partir daqui, comecei a reaproximação ao clube. Entre muitas conversas e abordagens ao assunto, alguns sócios questionaram-me sobre a minha disponibilidade para integrar uma lista. Inicialmente rejeitei, mas depois de me inteirar da situação do clube, decidi avançar por sentir que poderia ser útil. Avancei como líder do processo apoiando-me em alguns elementos da Direcção que até aí exerciam funções e “reforcei” o grupo de acção, com o Acácio Oliveira, elemento de capital importância para um dos sectores vitais de quaisquer instituições como é o pelouro do Património. Movido pela força do conhecimento, adquirido ao longo do tempo em que estive fora, a oportunidade que tive de conhecer “in loco” várias realidades desportivas, conceitos e metodologias de organização, quer ao nível desportivo quer ao nível associativo, levaram-me a decidir sem receios e de forma determinada.

SCLMJ Ser o responsável máximo de uma instituição tão sonante como o SCL Marrazes é um desafio hercúleo, acarreta sacrifícios pessoais e familiares, origina inimizades, conflitos, uma exposição mediática proporcional à grandeza da instituição, entre outros aspectos. Encontra-se arrependido de ter assumido estas funções?
CV
Assumo-me como alguém que gosta de grandes desafios e a minha família sabe isso. Exposições mediáticas sinceramente não me assustam, até porque, por inerência da minha actividade profissional, sou obrigado a conviver com estas situações. Quem fez parte da organização de eventos como o EURO 2004, dois campeonatos de Europa de Atletismo e uma dezena de jogos internacionais e outros tantos jogos de risco, tendo por responsabilidade a área funcional que tenho, não pode ficar assustado. A única verdade, é que ninguém consegue ou conseguirá nada sozinho e, neste momento sinto que não estou só, porque, atrás de mim, existe um grupo imenso de pessoas que não se expõem tanto quanto eu, mas que, sem eles nada conseguiria fazer. Estar à frente dum gigante como o SCL Marrazes é de facto um grande desafio, um desafio para gente audaz. Modéstia à parte, acho que devíamos ter chegado mais cedo. Afinal, no pensamento desta Direcção e em particular no meu, no SCL Marrazes, não basta dizer que somos superiores, temos de o fazer sentir às pessoas e instituições que nos rodeiam. Respondendo à questão do arrependimento, este surge quando nos deparamos com situações desagradáveis e inopinadas, mesmo que, eventualmente, possam acontecer coisas menos boas. Espero que não, jamais me arrependerei de ter liderado este clube, pois a relação que nos une é muito forte e quando o sentimento se torna em paixão não poderá haver motivos para arrependimento.

SCLMJ O slogan da vossa Direcção é “SCL Marrazes: Na Rota do Sucesso”. Após pouco mais de um ano de mandato, este ainda permanece válido?
CV
Respondo da forma como habitualmente costumo dizer, quando falo da nova imagem que criámos: após 71 anos de vida, o corvo já abriu as asas, apresenta uma imagem em plano de voo, desenhámos-lhe o trajecto, entrou na rota. No entanto, essa rota, só poderá não sofrer alterações se todos juntos, sublinho todos juntos, remarmos no mesmo sentido e lutarmos em conjunto por um clube cada vez mais forte. Na sequência deste slogan, digo-vos que para a nova época outro slogan está no ar, – Geração com força – será mais um slogan, para reforçar a ideia do trabalho conjunto com orientação virada a um só sentido.

SCLMJ Duas novas carrinhas de nove lugares, um autocarro, uma sede reabilitada, ATL, novas modalidades e actividades desportivas, um Coordenador para o Departamento de Futebol Juvenil, um campo sintético que parecia encalhado definitivamente na nossa mata, entre outros. Esta Direcção já entrou para a história do clube, pelo seu dinamismo e por, acima de tudo, passar das palavras aos actos. Como encara esta realidade?
CV
As pessoas que escolhi para me acompanharem são pessoas nas quais reconheço alguma semelhança comigo, em termos de perfil. A nossa, e em particular a minha filosofia, mais do que as palavras são os actos, simplesmente aquilo que o clube não estava habituado. O dinamismo implementado nasce também de alguma irreverência que tenho dentro de mim e que procuro transmitir aos meus companheiros, em que não é preciso estar à espera para fazer, o que conta é fazer. Confesso que pessoalmente tenho uma forma de estar muito própria, gosto de acção, de pessoas activas, que estejam para servir e não para se servir. A letargia não implementa movimento, e é a acção do movimento que provoca dinamismo, dinamismo que quero para o clube, só assim conseguimos e conseguiremos tornar o SCL Marrazes imenso. Mas atenção, não vamos adormecer “à sombra da bananeira” porque ainda há muito para fazer. Aliás, quando sentir que nesta Direcção pessoas haja que não acompanhem o ritmo, ou se acomodem à ideia de que está feito, para mim têm apenas mais uma oportunidade, apenas aquela que há-de dar lugar a outros. Sou e serei fiel ao princípio de que as pessoas passam, as instituições ficam e enganem-se aqueles que são insubstituíveis.

SCLMJ Explique-nos como se encontra financeiramente o SCL Marrazes.
CV
Financeiramente diria que estamos em recuperação. Tecnicamente o nosso problema é de tesouraria porque contabilisticamente o saldo é positivo. Quando chegámos há um ano atrás fui informado de um valor correspondente a determinado passivo, que julgava estar identificado mas, na verdade, esses indicadores não correspondiam à verdade. Com o desenrolar dos tempos, foram-nos aparecendo algumas dívidas, resultado de compromissos assumidos por outras Direcções e às quais a actual Direcção não se vai demitir de assumir, por inerência da nossa postura quer pessoal quer colectiva, pois somos pessoas de bem. Também aqui, o clube sofreu uma reestruturação porque os métodos utilizados não eram politicamente correctos. Quem me conhece sabe que a transparência sempre foi apanágio das instituições que representei, é um princípio do qual eu não abdico. Aos sócios é devido o direito à informação dos movimentos contabilísticos e o resultado dos exercícios. A reformulação referida passa, genericamente, pela distribuição sectorial de responsabilidades onde cada Departamento ou Modalidade funcionam como Centros de Responsabilidade e pela sua acção têm custos e proveitos devendo cada um deles ser apresentado em relatório, numa primeira fase individualmente. Considerando a aposta na criação de serviços e outros meios que funcionem como fontes de receita, elementos fundamentais para o suporte das bases de sustentabilidade futura, poderei dizer que durante o ano de 2009, o SCL Marrazes terá claramente as contas equilibradas. Mas, para que se atinjam esses resultados, é importante que haja sentido de responsabilidade na contenção e no controlo dos custos, assim como um investimento devidamente calculado e sustentado.

SCLMJ É inevitável falarmos das relações institucionais entre SCL Marrazes e o U. Leiria, nomeadamente em questões relacionadas com o Futebol Juvenil. Que tipo de entendimento existe entre as duas instituições?
CV
Em primeira instância, o SCL Marrazes deverá manter boas relações institucionais com todas as colectividades. No entanto, é importante que cada um, no seu lugar, saiba interpretar e vergar-se ao respeito mútuo que deverá presidir nessa relação. O presidente do SCL Marrazes é uma pessoa de diálogo e jamais se demitirá de ouvir e criar boas relações institucionais. No caso vertente, o relacionamento entre Direcções, não poderá nem deverá fugir das regras do entendimento e respeito. Mas, se por algum momento sentir que as situações possam estar a desviar-se, não abdicarei dos princípios que emanam da expressão popular “quem com ferro mata com ferro morre…” As rivalidades herdámo-las dos nossos pais e avós e tudo farei para as perdurar dentro dos princípios éticos que atrás referi. Da forma que nos respeitarem, respeitaremos e ninguém tem de se submeter a actos de subserviência ou vassalagem. A medida de grandeza de cada clube estará no subconsciente de cada adepto ou simpatizante, mas sempre, e volto a dizer, sempre com respeito. Obedecendo às leis de jogo, atitudes de rivalidade apenas as devemos manter dentro de campo, onde aí lutaremos até à exaustão pela vitória.

*A segunda parte desta entrevista será publicada na próxima semana.

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