Natural de Leiria, de raízes humildes, Rui Patrício foi educado na Matoeira, terra da mãe, Belisa, mas começou a jogar futebol no Sport Clube Leiria e Marrazes, da terra do pai, também Rui Patrício. Lá, já o avô José Ferreira tinha posto a jogar os seus seis filhos, sendo natural a sua influência para que Rui Patrício enveredasse pelo futebol.
Ainda criança, começou a jogar no flanco esquerdo (em futebol de sete e não de onze), mas uma birra do guarda-redes da equipa levou-o para a baliza. Desenrascou-se bem, até porque já na altura era de elevada estatura para a idade, o que ajudava muito... e quando o guarda-redes voltou, já tinha perdido o lugar para um tal de Rui Pedro, nome pelo qual era designado nas camadas jovens do Marrazes.
"Como era grande, jogava no escalão acima. Treinava-o ainda no lado esquerdo. Um dia, o guarda-redes chateou-se, foi-se embora, e foi ele para a baliza. Foi a sorte dele! Ficou e pegou de estaca. Tinha habilidade", conta, a O JOGO, o seu primeiro treinador, João Rocha.
Ficou três anos no emblema leiriense durante os quais chamou a atenção do Sporting, que após várias observações e muitos treinos em Alvalade acabou por decidir avançar para a sua contratação em 2000 por alguns "trocos" - cerca de 1500 euros -, passando depois Rui Patrício a integrar-se nas camadas jovens leoninas e a viver no extinto Lar dos Jogadores, aos 12 anos.
"A primeira vez que o Sporting o viu foi num torneio em Pataias. Foi o Carvalho, que era técnico e olheiro no Sporting, que o viu. Nunca mais o largaram, mas também se falou do Benfica", refere o seu primeiro técnico, com o segundo e último no Marrazes, Paulo Silva, a acrescentar: "Treinava quarta-feira e sábado em Alvalade e nos outros dias aqui no Marrazes. Houve interesse do Benfica, mas o Sporting viu-o primeiro, e o Aurélio Pereira entrou em contacto connosco. Fui lá com ele, e o Aurélio Pereira queria que fosse com 11 anos para lá, mas eu disse que era muito novo... A família é benfiquista, mas eu disse-lhes que era bom ele ir para o Sporting, e ele foi, no ano seguinte. Hoje em dia sentimos orgulho pelo que conseguiu. Tem mérito, porque sempre foi humilde, e o seu percurso deve-se a ele, pela qualidade, e ao Sporting, que apostou nele, sobretudo o Paulo Bento."
A ida para o Sporting, contudo, não foi fácil. Primeiro fazia apenas dois treinos por semana em Alvalade, demorando duas horas e meia só para lá chegar, às vezes combinando boleia, Expresso, metro e táxi. Depois de contratado, a separação da família com a mudança para o Lar dos Jogadores do Sporting foi um problema difícil de suportar pelo próprio e pelos pais, e a aventura leonina esteve prestes a ser interrompida várias vezes. "Não sei como deixei... Não o vi crescer, mas hoje não me arrependo. Valeu a pena. Esforçou-se, e vencemos tudo. Agradece ao Sporting o que é hoje, fez-se lá homem. Mas quando fui ao Lar dos Jogadores, no antigo Estádio de Alvalade, pensei trazê-lo", confessou a mãe, Belisa (em reportagem publicada em O JOGO no dia 30 de Março de 2007). Uma tristeza familiar que Paulo Silva presenciou. "Nessa altura, uma vez vi a mãe do Rui Patrício, e ela chorava muito por o filho estar longe", recorda.
Há uma semana, Rui Patrício alcançou mais uma meta: ser internacional por Portugal. E fê-lo num jogo glorioso, com goleada à campeã do mundo Espanha. O jogo foi visto em casa com expectativa e emoção, como nos contou o pai: "Foi bom, embora tenha feito pouco. Vi o jogo em casa, como sempre. Falei um bocadinho com ele, mas falamos pouco de futebol. Ver o sucesso dele recompensa. Espero o melhor para ele."
O avô, José Ferreira, que espera rever o neto na sua festa de 81º aniversário, no dia 1 de Dezembro, revela o estado de espírito de felicidade que o camisola um dos leões atravessa. "Ainda há dias estive com ele. Fartei-me de rir, estava muito contente, muito bem-disposto. O futuro é com ele. Não sei se algum dia vai querer ir para Inglaterra", desvenda.
Os miúdos não param de chegar ao Marrazes na ânsia de seguir as pisadas de Rui Patrício, ídolo do clube e da terra.
"Tem sido importante para o clube, porque é conhecido pelo Marrazes. Tem servido de bandeira. Ainda bem, porque quando foi para o Sporting, não beneficiámos quase nada economicamente... Tem trazido miúdos para treinar, cada vez temos mais. Gostávamos de o trazer cá para uma homenagem, mas com o calendário do Sporting é difícil. As pessoas gostam, falam, comentam. Ainda no outro dia, na estreia pela Selecção, o locutor disse que ia entrar em campo o Marrazes! Isso dá-nos alegria", explica João Rocha a respeito do sentimento de orgulho e reconhecimento. A popularidade da formação do Marrazes levou mesmo Jorge Costa, técnico da Académica, a colocar lá o seu filho na primeira fase da formação desportiva.
E foi no Marrazes que nasceu a capacidade e apetência de Rui Patrício para defender grandes penalidades, recorda Paulo Silva: "Os penáltis vêm dos tempos de cá. Defendia 80%! Quando foi para o Sporting, depois veio cá para um amigável. Ganharam 6-0 e defendeu-nos uma grande penalidade! Quando se estreou, com o Marítimo, eu estava a ver o jogo em casa e estava a dizer à minha mulher que ia defender o penálti... Entre os postes, dava a iniciativa aos avançados, aguentava e depois defendia as bolas. Nos cantos dizia: 'É minha, é minha!'; quando não apanhava a bola, acrescentava: 'Já não é, já não é!'; e se dava golo, dizia: 'Sacode as penas!' Era humilde e ele próprio assumia que tinha errado. Às vezes queria deixar de ser guarda-redes, eu dava-lhe uns treinos como jogador de campo como rebuçado, mas ao sábado metia-o na baliza. Tendo em conta o patamar a que chegou, posso dizer que tive a sorte de treiná-lo."
Paulo Silva, o último treinador de Rui Patrício no Marrazes, ainda hoje trata o titular da baliza verde e branca por Rui Pedro, como a nossa reportagem testemunhou com um telefonema para pôr a conversa em dia, e acredita que um dia chegará a um dos melhores clubes do mundo: "Tem condições para ser dos melhores da Europa. Quando chegar aos 28 anos, mais maduro, imagino... Para mim, algum dia vai parar ao Manchester United."
Campeões do mundo a zero
Do pelado de Marrazes, Patrício rumou a Alvalade aos 12 anos. No Lar, cresceu ao lado de... Cristiano Ronaldo, que reencontrou logo após o jogo de há três anos em Matosinhos, quando agarrou a titularidade. Na altura sofreu um golo do CR7, que se desculpou. Agora defronta espanhóis campeões do mundo na estreia pelas Quinas e deixa-os a zero...
Casamento de Santo António
A relação de alguns anos com a namorada Joana vai ser "oficializada" em casamento no próximo Verão, mais precisamente no dia 13 de Junho, dia de Santo António em Lisboa. Será, pois, um casamento de Santo António, paralelo à iniciativa popular que celebrizou os matrimónios daquele dia.
À espera de outra prenda
Influência importante na carreira de Rui Patrício, o avô José Ferreira ainda segue fervorosamente a vida do emblema da terra, o neto "Marrazes". Prestes a cumprir os 81 anos, no dia 1 de Dezembro espera mais uma prenda de Rui para juntar à camisola número um do Sporting que guarda carinhosamente em casa.
Retirado do site do jornal O Jogo
1 comentário:
Grande Mula! tens mérito em tudo o que conquistas te até aqui.
Nunca esqueças é este grande Clube que muito contribui para o teu sucesso desportivo.
Estou crente que toda a familia Marrazense está orgulhosa pelo teu percurso.
Votos de sucesso.
Abraço amigo!
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